A
Sociedade Brasileira de Cardiologia reduziu o limite de colesterol considerado
saudável. Segundo a entidade, pacientes com alto risco de doenças
cardiovasculares devem manter o colesterol abaixo de 70 miligramas por
decilitro de sangue. O limite anterior era de 100 miligramas por decilitro. Na
prática, milhares de brasileiros passarão a ser aconselhados a tomar remédios
para reduzir o colesterol, conhecidos como estatinas. A nova recomendação, mais
rigorosa que a adotada nos Estados Unidos e na Europa, provoca discórdia.
Alguns cardiologistas dizem que a decisão é benéfica, porque a maioria dos
infartados não controla os níveis de colesterol como deveria. Outros argumentam
que os remédios visam combater apenas um dos mais de 200 fatores responsáveis
pela obstrução das artérias.
O médico
calcula o risco de cada paciente a partir de várias variáveis: idade,
ocorrência anterior de infarto ou derrame, histórico familiar, tabagismo,
obesidade, diabetes, colesterol ruim (LDL) elevado ou colesterol bom (HDL)
muito baixo. Os problemas cardiovasculares são a principal causa de mortes por
doença no Brasil c no mundo. É vital combatê-los, mas não se deve acreditar que
infartos e derrames serão evitados apenas com o aumento no consumo de remédios.
As estatinas são a maior história de sucesso financeiro da indústria
farmacêutica. Mas seu benefício é questionável. A cada 100 pessoas que tomam
estatinas e nunca infartaram, apenas uma terá benefício. A cada 100 pessoas que
tomam estatinas e já infartaram, 20 terão benefício. Se o paciente tem muitos
fatores de risco e não consegue controlá-los, as estatinas trazem reais
benefícios. Se ele faz atividade física, não fuma, não tem histórico de doença
cardiovascular, não é hipertenso e está com o colesterol um pouco acima do limite,
não faz sentido submetê-lo ao risco de efeitos colaterais. Eles ocorrem em 30%
dos consumidores. Vão de dores musculares e desconfortos gastrintestinais a
problemas graves e raros, que podem levar à insuficiência renal e à morte.
As
sociedades têm um grave desafio quando o mau uso da tecnologia médica beneficia
apenas os fabricantes e os prescritores. O efeito da influência indevida da
indústria farmacêutica na elaboração de diretrizes médicas é bem conhecido:
mais custos e menos saúde.
Fonte: CFF - Conselho Federal de Farmácia
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